Projeto da UnB distribuiu aparelhos para as equipes de psicologia
JOSIANE CANTERLE, DA AGÊNCIA SAÚDE DF
Uma das maiores dificuldades que os pacientes hospitalizados vítimas da Covid-19 enfrentam no período de tratamento é o distanciamento dos entes queridos. Com a proibição das visitas devido ao grande risco de contágio, há pacientes que ficam até 40 dias internados sem ver os familiares e amigos, as pessoas que poderiam estar ao seu lado nesse momento. Os profissionais de Psicologia têm se dedicado a tentar amenizar essa situação desde o início da pandemia e agora recebem um reforço para essa missão: tablets.
Tablets irão facilitar a comunicação entre pacientes com Covid-19 e familiares – Foto: Geovana Albuquerque/Agência Saúde DF
Oito aparelhos foram doados para a Secretaria de Saúde pelo projeto “UnB Solidária”. Os eletrônicos serão patrimoniados e distribuídos para os hospitais da rede pública. A ideia é conseguir pelo menos um para cada hospital que está atendendo pacientes com Covid-19.
“Eles serão destinados para os pacientes isolados com diagnóstico de Covid, longe da família, para manter o contato com a rede de apoio, intermediado pelo atendimento psicológico, levando em conta as condições clínicas”, disse a gerente de Serviços de Psicologia, Rúbia Marinari.
A professora de nutrição da UnB Renata Alves Monteiro foi até a sede da Secretaria de Saúde fazer a entrega dos tablets. Ela conta que a ideia de arrecadar os aparelhos foi exatamente devido à impossibilidade de os pacientes receberem visitas e para isso foi usada uma plataforma de aplicativo.
“O Doarti conecta quem quer doar com quem quer receber qualquer tipo de doação. É um aplicativo que está disponível em várias bases”, explica a Renata, que ainda afirma: “eu sei que esse equipamento vai ajudar quem está sem ver seu familiar há muito tempo”.
Representando os profissionais dos hospitais da pasta, a psicóloga Thatiana Gimenes, que coordena o Serviço de Psicologia do Hospital Regional de Ceilândia, relatou uma das experiências que estão sendo realizadas e que auxiliam familiares e pacientes em um dos momentos de maior insegurança da internação: a intubação. A profissional conta que sempre que a equipe de Psicologia é informada de que um paciente será intubado eles tentam fazer uma videochamada.
Projeto da UnB vai doar tablets para hospitais da rede pública que atendem pacientes com a Covid-19 – Foto: Geovana Albuquerque/Agência Saúde DF
“É um momento em que o paciente ainda está acordado, consegue se falar com os familiares, tranquilizar a família, porque a partir daquele momento para a intubação ele vai ficar sedado. Esse é um momento de grande angústia e a Psicologia entra nesse momento de preparação para esse procedimento, tanto uma preparação para a família quanto para o paciente, para acalmar, reduzindo a ansiedade” relata Thatiana.
No início da pandemia, apenas o Hospital Regional da Asa Norte era referência para o tratamento da Covid-19 no Distrito Federal. Logo, os profissionais de Psicologia da unidade perceberam que era necessário criar formas de aproximar os parentes dos internados.
Iuri Bezerra Luz, que é psicólogo no Hran, acredita que os tablets vão otimizar o trabalho dos profissionais. Até agora a atividade era realizada com os aparelhos de telefone dos próprios servidores e dependia da disponibilidade de pacientes e familiares, sem conseguir estabelecer uma rotina.
Foto: Geovana Albuquerque/Agência Saúde DF
“A experiência que o tablet propicia é mais intensa, eu acho mais interessante e amplia em números a nossa inserção com esse procedimento. A expectativa é que possamos criar uma rotina que antes não era possível pela ausência dele”, avalia.
O psicólogo relata que uma das experiências mais marcantes vividas por meio das videochamadas são as despedidas. “Às vezes temos um paciente de cuidados paliativos que a gente consegue programar. Mas em outras circunstâncias a equipe acaba descobrindo que foi o último momento quando percebe que o paciente foi a óbito”.
No Hran as videochamadas são realizadas no pronto-socorro e nas enfermarias, chegando a 90% dos pacientes internados. A equipe também dá suporte às famílias dos pacientes e realiza teleatendimentos.
EDIÇÃO: JOHNNY BRAGA
REVISÃO: JULIANA SAMPAIO