Doença de Haff

A doença de Haff, ainda de etiologia desconhecida, é caracterizada por uma condição clínica que desencadeia o quadro de rabdomiólise, após o consumo de pescados. 

A doença se caracteriza pelo desenvolvimento de rabdomiólise com um nível sérico de creatinoquinase marcadamente elevado, que ocorre dentro de 24 horas após o consumo de pescados. De forma geral, as manifestações clínicas mais comuns são: mialgia, fraqueza, rigidez e contratura muscular, podendo estar acompanhada de mal-estar, alteração da coloração da urina, náusea, vômito, dor abdominal e diarreia. Geralmente não são observadas alterações neurológicas, febre, esplenomegalia ou hepatomegalia. 

O diagnóstico da rabdomiólise e, consequentemente, da doença de Haff é baseado em critérios: 
    • Epidemiológico: Histórico de consumo de pescado nas últimas 24 horas anteriores ao início dos sinais e sintomas; e 
    • Clínico: Presença de alteração muscular (como mialgia intensa, fraqueza muscular, dor cervical, dor torácica, rigidez muscular) de etiologia desconhecida e de início súbito e/ou presença de urina escura – semelhante a café ou chá preto; e 
    • Laboratorial: O diagnóstico de rabdomiólise varia consideravelmente e, usualmente, marcadores laboratoriais são utilizados para tal, como elevação dos níveis de creatinofosfoquinase (CPK). Elevação expressiva dos níveis de creatinofosfoquinase – CPK (aumento de, no mínimo, cinco vezes o limite superior do valor de referência). 

Para efeitos de notificação e investigação epidemiológica dos casos compatíveis com a doença de Haff, entende-se por pescados os peixes, os crustáceos (camarão, caranguejos, lagostas), os moluscos (ostras, mexilhões, lulas, polvos) e outros animais aquáticos usados na alimentação humana. 

Definição de Caso: 
  • Caso compatível com a doença de Haff: indivíduo que se enquadra na definição de caso de rabdomiólise de etiologia desconhecida e apresentou histórico de consumo de pescado (de água salgada ou doce) nas últimas 24h do início dos sinais e sintomas. 
    • Surto de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar - compatível com a doença de Haff: dois ou mais indivíduos que atendam à definição de caso compatível com a doença de Haff e tenham vínculo epidemiológico, ou seja, histórico de consumo do mesmo pescado suspeito. 

Os primeiros casos da doença de Haff foram relatados em 1924 na região litorânea de Konigsberg Haff, próximo à costa do Mar Báltico na Prússia Oriental. Desde então, casos e surtos similares têm sido descritos nos estados bálticos, na Rússia e na Suécia. Nos EUA, os primeiros registros foram no Texas, em 1984. Além desses, 13 casos da doença foram notificados no Japão (1999 - 2008) e, após os primeiros registros em 2000, tem se observado um aumento gradual de casos identificados na China. De acordo com dados disponibilizados na literatura, há o relato de consumo de diversas espécies de pescados nas 24 horas anteriores ao início dos sinais e sintomas. 

No Brasil, casos compatíveis com a doença são descritos na literatura desde o ano de 2008. Inicialmente no estado do Amazonas, no qual há relato de 27 pessoas que adoeceram após o consumo de pacu (do gênero Mylossoma), tambaqui (Colossoma macropomum) e/ou pirapitinga (Piaractus brachypomus). Na Bahia, em 2016 e 2017, houve o relato de 15 casos da doença de Haff, com histórico de consumo de peixe das espécies olho de boi (Seriola spp.) e badejo (Mycteroperca spp), e em 2020, 40 casos compatíveis com a doença. No estado de São Paulo, em 2018, houve um relato de um casal que consumiu o pescado olho de boi (Seriola spp) e que apresentou quadro compatível com a doença de Haff. Além desses, houve ainda a ocorrência de rumores de outros casos compatíveis com a doença em estados pertencentes às regiões Norte, Nordeste e Sudeste, embora não haja estudos publicados, nem notificação oficial de todos os casos. 

Ainda que rara, a doença é considerada emergente e, pela sua origem desconhecida, enquadra-se como um evento de saúde pública (ESP), sendo assim, é considerada de notificação compulsória.