Doença de Chagas
DOENÇA DE CHAGAS
A Doença de Chagas (ou Tripanossomíase americana) é a infecção causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e transmitida pelo triatomíneo - inseto popularmente conhecido como Barbeiro. Apresenta curso clínico bifásico, composto por uma fase aguda que pode ser sintomática ou não, e uma fase crônica, que pode se manifestar nas formas: cardíaca, digestiva ou cardiodigestiva.
Estima-se que milhões de pessoas convivam com a Doença de Chagas no Brasil, muitas vezes sem saber que estão infectadas.
No Distrito Federal (DF) a mortalidade por doença de chagas crônica (DCC) é a segunda maior do país, mesmo sem registros de transmissão vetorial, o que pode ser justificado pelo movimento migratório no país e as taxas de mortalidade serem referentes ao local de residência (BRASIL, 2022).
TRANSMISSÃO
A transmissão da Doença de Chagas para humanos pode ocorrer de diversas formas, sendo a transmissão vetorial a mais comum. Nesse tipo de transmissão, o inseto vetor (barbeiro) pica a pele da pessoa para se alimentar e, ao mesmo tempo, defeca próximo ao local da picada. As formas infectantes do parasita Trypanosoma cruzi, presentes nas fezes do barbeiro, podem penetrar no organismo quando a pessoa coça ou esfrega a área afetada, facilitando a entrada do parasita através da pele.
O período de incubação da Doença de Chagas — ou seja, o tempo entre a infecção e o aparecimento dos primeiros sintomas — varia conforme o modo de transmissão. Cada forma de contágio pode influenciar a rapidez com que os sinais da infecção se manifestam no corpo.
A figura abaixo ilustra as principais vias de transmissão da Doença de Chagas, destacando as diferentes maneiras pelas quais o Trypanosoma cruzi pode ser transmitido ao ser humano.
SINAIS E SINTOMAS DA DOENÇA DE CHAGAS
A doença de Chagas apresenta diferentes sintomas em suas duas fases: aguda e crônica.
- Na fase aguda, os principais sinais incluem:
- febre prolongada (mais de 7 dias);
- dor de cabeça;
- fraqueza intensa;
- inchaço no rosto e nas pernas. Além disso, no caso de picada do barbeiro, pode surgir uma lesão semelhante a um furúnculo no local.
Se o tratamento adequado não for administrado durante a fase aguda, a doença pode evoluir para a fase crônica, que inicialmente não apresenta sintomas (forma indeterminada). Com o passar dos anos, podem surgir complicações graves, como:
- problemas cardíacos, incluindo insuficiência cardíaca;
- problemas digestivos, como megacólon e megaesôfago.
DIAGNÓSTICO DA DOENÇA DE CHAGAS
O exame de sangue é utilizado para diagnosticar a doença e é realizado pelo Sistema Único de Saúde. Os métodos para diagnóstico dependem da forma clínica da doença. Os principais métodos de diagnóstico incluem os métodos diretos (pesquisa do parasita circulante no sangue periférico) e/ ou indiretos (detecção de anticorpos anti-T.cruzi no sangue).
Orientações quanto a realização dos exames, coleta e acondicionamento de amostras estão disponíveis no Lacen-DF: exames laboratoriais.
Métodos de diagnóstico de acordo com a fase da doença.
Doença de Chagas - Diagnóstico | |
Aguda | Crônica |
O diagnóstico da fase aguda é realizado por métodos parasitológicos diretos, sorológicos indiretos e molecular. O LACEN DF realiza os exames abaixo:
Métodos sorológicos indiretos:
Método molecular
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O diagnóstico da fase crônica é realizado por métodos sorológicos indiretos por duas metodologias distintas. Os métodos sorológicos realizados no âmbito da SES/DF (LACEN DF) para detecção de anticorpos da classe IgG:
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RASTREAMENTO NO PRÉ-NATAL
O rastreamento pré-natal é uma medida essencial para prevenir a transmissão congênita da Doença de Chagas, alinhando-se à estratégia de eliminação da transmissão vertical. Para facilitar a identificação de gestantes infectadas e, consequentemente, recém-nascidos em risco de infecção congênita, desde 2014 a rede pública do Distrito Federal implementou a realização de sorologias no pré-natal por meio da Triagem Materna, também conhecida como teste da mamãe.
Para acessar as orientações de vigilância epidemiológica diante da detecção de infecção por Trypanosoma cruzi em gestantes e mulheres em idade fértil com Doença de Chagas crônica, consulte a Nota Técnica Nº 12/2024 - SES/SVS/DIVEP/GVDT. |
Mulheres em idade fértil diagnosticadas com a Doença de Chagas devem ser informadas sobre a possibilidade de transmissão vertical durante a gravidez. Embora o risco de transmissão exista, ele é considerado baixo e não contraindica a gravidez. Entretanto, é altamente recomendável que essas mulheres realizem o tratamento etiológico antes da gestação, reduzindo significativamente o risco de transmitir o parasita ao bebê.
Após o nascimento do bebê, é fundamental realizar o diagnóstico precoce para identificar possíveis casos de transmissão congênita da Doença de Chagas. O primeiro passo é solicitar o exame parasitológico do sangue do recém-nascido durante o primeiro mês de vida, preferencialmente nos primeiros 10 dias.
Caso o exame parasitológico seja negativo, ou em situações em que esse método não tenha sido utilizado, deve-se realizar, após o 9º mês de vida, a pesquisa de anticorpos IgG anti-T. cruzi utilizando duas metodologias diferentes. Esse prazo é importante, pois antes do 9º mês, os resultados podem ser influenciados pela presença de anticorpos maternos (imunidade passiva), o que pode levar a diagnósticos incorretos.
O tratamento oportuno no período neonatal é crucial, com taxas de cura que podem alcançar até 99% de eficácia, reforçando a importância de intervenções precoces para o sucesso do tratamento.
TRATAMENTO
O tratamento da doença de Chagas deve ser indicado por um médico, após a confirmação da doença. Há dois medicamentos principais: benznidazol e nifurtimox, ambos são efetivos em reduzir a duração e a gravidade clínica da doença. O benznidazol é mais utilizado no contexto do Distrito Federal e é disponibilizado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde.
O tratamento da doença de Chagas tem como objetivo prevenir complicações e diminuir a possibilidade de transmissão por T. cruzi podendo alcançar a cura da doença, a depender da faixa etária e da fase clínica da doença (BRASIL, 2018).
Para as pessoas na fase crônica, a indicação desse medicamento depende da forma clínica e deve ser avaliada caso a caso.
Para o tratamento etiológico da doença de Chagas, independente da fase clínica da doença o profissional deve consultar o “Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Doença de Chagas” e o Guia de vigilância em saúde: volume 2 (6ª edição - revisada).
TRATAMENTO DAS GESTANTES E/OU MULHER EM IDADE FÉRTIL COM DCC
O tratamento da doença de Chagas, embora contraindicado na gravidez devido ao seu potencial teratogênico, deve ser avaliado individualmente pelo especialista, considerando os riscos e benefícios materno-fetais (Dias et al., 2015).
Para as gestantes com quadro clínico AGUDO e grave de doença de Chagas (por exemplo miocardite ou meningoencefalite), o tratamento deve ser realizado independentemente da idade gestacional, devido à alta morbimortalidade materna (Brasil, 2018).
Já em gestantes com a doença de Chagas na fase CRÔNICA o tratamento NÃO deve ser realizado, uma vez que o risco de transmissão congênita é baixo (Rassi, 2010).
DISPENSAÇÃO DO MEDICAMENTO
A dispensação da medicação é realizada pela Farmácia Escola do Hospital Universitário de Brasília. A dispensação do medicamento dar-se-á mediante apresentação de:
- documento de identificação com foto;
- cartão nacional de saúde;
- prescrição médica em duas vias;
- relatório para dispensa de benznidazol (146433908);
- ficha de notificação/investigação SINAN para casos Agudo e e-SUS Notifica para casos Crônicos;
- exame parasitológico (em caso de reativação).
TRIATOMÍNEOS NO DOMICÍLIO
A Diretoria de Vigilância Ambiental (DIVAL) realiza ações contínuas de vigilância e controle dos barbeiros, principais transmissores da Doença de Chagas. Caso barbeiros sejam encontrados em domicílios, é fundamental capturá-los com cuidado, evitando o contato direto para prevenir riscos de contaminação. Após a captura, o inseto deve ser levado a um dos Postos de Informações sobre Triatomíneos (PITs), localizados em diversas regiões do Distrito Federal, para análise e controle.
Confira a lista completa de PITs no link a seguir: Postos de Informação de Triatomíneos - PITs.
Para mais informações sobre o controle de vetores da Doença de Chagas, acesse:
Controle de Vetores da Doença de Chagas
Notificação da doença de Chagas
A Doença de Chagas é de notificação compulsória no Brasil, e a notificação dos casos varia de acordo com a fase da doença, como descrito a seguir:
Doença/ Fase da doença | O que notificar | Periodicidade de notificação | Sistema | |
Caso suspeito | Caso confirmado | |||
Doença de Chagas Aguda (DCA)* | X | X | Imediata (até 24 horas | SINAN |
Doença de Chagas Crônica (DCC) | X | Semanal e-SUS | Notifica |
A Doença de Chagas Aguda (DCA), que envolve a fase inicial da infecção, deve ser notificada imediatamente, dentro de 24 horas, tanto no caso de suspeita quanto de confirmação.
Essa notificação é registrada no sistema SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) utilizando a Ficha de notificação para Doença de Chagas Aguda
Já a Doença de Chagas Crônica (DCC), que pode se desenvolver após anos da infecção inicial, exige a notificação semanal apenas para os casos confirmados. Esses registros são feitos no e-SUS Notifica por meio da Ficha de notificacao - Doenca de Chagas
Nota Técnica N.º 1/2023 - SES/SVS/DIVEP/GVDT – Orientações sobre a Transmissão Vertical da Doença de Chagas.
Nota Técnica N.º 4/2024 - SES/SVS/DIVEP/GVDT - Vigilância da Doença de Chagas Aguda e da Doença de Chagas Crônica.
Nota Técnica N.º 12/2024 - SES/SVS/DIVEP/GVDT - Vigilância Epidemiológica da doença de Chagas em mulheres em idade fértil (10 a 49 anos) e gestantes afetadas pela doença no Distrito Federal.
Acesse aqui mais informações sobre a doença de chagas