De servidora a paciente: a história de uma das voluntárias do Outubro Rosa no HRT
De servidora a paciente: a história de uma das voluntárias do Outubro Rosa no HRT
Ainda em tratamento, servidora planeja toda a ornamentação do centro cirúrgicoOutubro RosaOutubro Rosa
JOSIANE CANTERLE
“Nesse ano, a gente precisava fazer uma surpresa para a doutora Josiane. Eu a retirei da sala com a desculpa de que era para ela ver o que tinha no meu peito. Ela me levou para fazer a mamografia, a ecografia, marcou uma punção. Apareceu lesão nas duas mamas”. Esse relato é da técnica de enfermagem Olívia Maria Passos, que atua há 25 anos no HRT, e a médica a que ela se refere é a mastologista Josiane Fernandes. Foi Josiane quem idealizou o mutirão de reconstrução mamária há 5 anos, no Hospital Regional de Taguatinga, e Olívia, desde aquela época, trabalhou ativamente em cada edição.
Neste ano, Olívia será uma das mulheres atendidas na ação enquanto trabalha, a distância, por ainda estar em tratamento contra o câncer de mama. A técnica havia percebido um caroço em uma das mamas ainda durante as atividades do em 2019. Embora tivesse consciência do risco, Olívia preferiu ignorar aquele nódulo e focar no trabalho que realizava preparando o ambiente com toda a decoração do centro cirúrgico para receber as pacientes e voluntários.
Somente no início de 2020, quando a sua filha percebeu a alteração no seio, que a servidora sentiu que realmente precisava investigar. Mas foi somente quando ela utilizou como desculpa para preparar uma homenagem a uma das médicas mais queridas da unidade, que precisou enfrentar a notícia da doença e encarar o tratamento. Olívia não quis passar isso sozinha e fez questão de dividir esse momento com as colegas, recebendo o apoio de todas.
“Em março fiz o esvaziamento da mama com a reconstrução. Foi muito tranquila a recuperação. Não senti incômodos. No final de maio iniciei a quimioterapia e ainda estou fazendo o tratamento. Aí o cabelo caiu, mas quando começou a cair eu passei a máquina zero e não tenho problema em usar assessórios”, conta Olívia. E ela acrescenta: “eu sou funcionária, e hoje estou paciente”.
A servidora ainda está passando pelas sessões de quimioterapia, depois fará radioterapia e hormonioterapia. Para este Outubro Rosa, a paciente fará pigmentação do mamilo, pois depois da retirada e reconstrução imediata das mamas, na recuperação, algumas pequenas áreas necrosaram e ficaram mais brancas que o tom da sua pele. Todo o tratamento está sendo realizado na rede pública.
Voluntariado
As ações do no HRT tiveram início em 2015 com o propósito de melhorar a autoestima e encerrar o ciclo das mulheres que venceram o câncer. Embora disponível na rede pública, a reconstrução mamária é uma cirurgia eletiva, podendo levar algum tempo para ter o procedimento autorizado. A cada ano, o número de pacientes atendidas foi aumentando, assim como o de voluntários. Na primeira edição foram 20 pacientes assistidas, em 2019 foram realizados 73 procedimentos. Neste ano estão previstas 40 cirurgias devido à pandemia.
Além da parceria com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, que contribui com materiais para a decoração e próteses, profissionais da saúde de outras unidades e estados voluntariam-se para compor as equipes. São médicos cirurgiões, anestesistas, enfermeiros, técnicos e outros mais.
Também a comunidade foi se sensibilizando durante os anos e passou a garantir lanches, cafés e almoços para os trabalhadores. Entre os próprios servidores, há quem disponibilize seu tempo quando o plantão acaba, costurando as toucas dos profissionais, os lençóis e aventais das pacientes, tudo rosa. Com o tempo, as próprias pacientes que foram beneficiadas pelo mutirão passaram a contribuir com os lanches.
O superintendente da região de saúde Sudoeste, Wendel Moreira, exalta a atitude dos profissionais de saúde que somam forças para cuidar da saúde das pacientes. “Neste momento de pandemia, e de todas as outras patologias que incidem sobre a população, eles se voluntariam preocupados com o seu próximo no momento de conversão de esforços. Eu vejo isso como uma virtude do profissional de saúde. Esses servidores fazem diferença onde estão”, destaca o gestor.
São trabalhadores que atuam antes, durante e depois da ação para fazer tudo acontecer, cuidando de detalhes a fim de fazer a diferença na vida das pacientes. “Desde 2017 eu sempre faço uma lembrancinha, que é uma caneta decorada, para distribuir. É em torno de 150 canetas, para a ginecologia, maternidade, e oncologia. Quando chega de abril para maio eu já começo a planejar e fazer as coisas”, relata Olívia, que neste ano está fazendo as contribuições de casa. Ela planejou a ornamentação de casa, recortou os materiais e teve o auxílio das colegas para colocar tudo no lugar.