Grupo de controle do tabagismo da Saúde ajuda a quem deseja parar de fumar
Grupo de controle do tabagismo da Saúde ajuda a quem deseja parar de fumar
Porcentagem de pessoas que deixam o cigarro após participar é maior do que a média na literaturaAlline Martins, da Agência SaúdeFotos: Mariana Raphael/Saúde-DFArte: Danielle Freire/Saúde-DF
Trinta e seis anos de idade e um histórico de câncer renal, em 2007, e dois infartos em menos de quatro meses, o último, em fevereiro deste ano. Mas somente em março, Isabel Cristina Teófilo Teodoro decidiu parar de fumar. “Achava que o cigarro não tinha provocado e que eu não tive infarto nenhum”, disse. Ficar 60 dias sem fumar só tem sido possível, segundo ela, graças à participação no grupo do Programa de Controle de Tabagismo da Secretaria de Saúde, na Unidade Básica de Saúde 2 da Asa Norte. A UBS é uma das 69 unidades que ofertam tratamento a fumantes e estão distribuídas por todas as regionais de Saúde. “Ouvir relatos de outras pessoas me deu força. O que mais me encorajou foi a história de uma senhora que disse que os netos não chegavam perto dela por que ela fedia. Só aí me dei conta de por que meus filhos não gostavam de ficar muito perto de mim”, conta Isabel, mãe de três adolescentes. Este é, basicamente, o trabalho do grupo: oferecer escuta qualificada. Tudo bem acompanhado por médico, farmacêutico, enfermeiro, técnico de enfermagem, fisioterapeuta, psicólogo e, em algumas unidades, um nutricionista. “A base do tratamento é a abordagem cognitiva comportamental, por meio de atendimentos em grupos, com duração de quatro a cinco semanas sequenciais e encontros de manutenção até completar um ano. Existe, também, o apoio medicamentoso, quando indicado”, explica a assistente social da equipe do Controle de Tabagismo, Maria Suélita de Lima. TEMÁTICA – Os assuntos abordados nos encontros são definidos pelo Ministério da Saúde. A proposta visa a entender por que se fuma e como isso afeta a saúde; os primeiros dias sem fumar; como vencer os obstáculos para permanecer sem fumar e os benefícios obtidos após parar de fumar. Todos os participantes recebem adesivo de nicotina e 30%, por indicação após avaliação médica, pode passar a usar medicamento. Nos grupos, o índice de interrupção do vício, medido na quarta sessão, é de 41,7%. A literatura considera trabalho de excelência os que conseguem uma abstinência em torno de 35%. Assim, o trabalho desenvolvido pela secretaria está acima da média. Dos atendimentos realizados em 2018, 56% foi para pessoas do gênero feminino e 44% do gênero masculino. A faixa etária foi de 7% para menores de 18 anos; de 18 a 60 anos, 77%; e maior de 60 anos, 23%. ENCONTROS – “Temos grupos abertos, em que a pessoa pode entrar em qualquer um dos encontros e se compromete a assistir a todos os temas. E os grupos fechados, quando um mesmo grupo de pessoas assiste a todas as temáticas em sequência. Em ambos, os encontros acontecem uma vez por semana”, detalha o médico Márcio Braga, um dos profissionais do grupo formado da UBS 2 da Asa Norte. Por lá, uma média de dez pessoas participam, semanalmente. Em seu segundo encontro, ‘João’, que prefere não ser identificado para não “sofrer pressão da família, que cobra que ele pare de fumar, relata estar gostando da dinâmica utilizada. “Já participei de outro grupo e passavam o tempo todo cobrando que parássemos de fumar. Por aqui, nos deixam mais à vontade quanto a isso e poderei fazer no meu tempo”, diz. Fumante há 27 anos, João já tentou parar outras vezes, porém, diz que a convivência com outros fumantes sempre o fez voltar ao vício. “Mas acho que, agora, vai dar certo, principalmente porque a escuta aqui no grupo é qualificada, acompanhada por profissionais médicos”, destaca. Para Maria Suélita, o desejo é fundamental ao tomar a decisão de parar de fumar. “A pessoa interessada pode buscar apoio nas unidades de tratamento de fumantes que estão disponíveis em todas as regiões de saúde. A lista com os endereços consta no site da Secretaria de Saúde”, informa. PERIGO – Atualmente, as doenças crônicas são responsáveis por 72% das mortes. Destas, 63% estão relacionadas ao tabagismo. Segundo Suélita, ele, além de ser um fator de risco, é também considerado uma doença crônica. Pode provocar doenças coronarianas, pulmonares obstrutivas crônicas e diversos tipos de câncer. Está comprovado, também, que o tabagismo aumenta em 2,5 vezes o risco de ter tuberculose por três motivos: disfunção da mecânica ciliar, diminuição da resposta imune e defeitos na resposta imunológica dos macrofilos, o que aumenta a suscetibilidade à infecção. O risco de morte por tuberculose em fumantes aumenta em até nove vezes quando comparado aos não fumantes. A fumaça é, também, um risco para o fumante passivo. “Na corrente primária da fumaça, aquela que sai da boca do fumante, foram encontradas mais de 4.700 substâncias tóxicas, das quais 43 são comprovadamente cancerígenas”, alerta a assistente. Na corrente secundária, aquela fumaça que exala da ponta do cigarro, há três vezes mais nicotina, 69 substâncias cancerígenas e até oito vezes mais nitrosaminas. “Destacamos, ainda, que o fumo de terceira mão, aquele cheiro forte que fica nos móveis, paredes, carros dos fumantes, é onde encontramos a combinação de nicotina, fumaça do tabaco e ácido nitroso, que são as nitrosaminas, substância comprovadamente cancerígena”, completa. TRABALHO – A área técnica do Programa de Controle do Tabagismo da Secretaria de Saúde realiza ações no sentido de prevenir a iniciação, por meio do programa Saber Saúde, com material didático específico, oferecido a todas as escolas da rede pública do DF. “Na redução da prevalência, capacitamos profissionais de saúde e disponibilizamos os insumos para abertura de ambulatórios de tratamento de fumantes, com a oferta de apoio comportamental e medicamentoso”, complementa Suélita. As ações de educação são realizadas por meio de duas campanhas anuais, que chamam a atenção para o tema: em 31 de maio – Dia Mundial Sem Tabaco, e em 29 de agosto – Dia Nacional de Combate ao Fumo. Clique aqui e saiba mais sobre o assunto.