08/05/2022 às 11h00

Amor de mãe: inexplicável e arrebatador

Um susto que virou o maior amor do mundo; conheça a história de Monique Ferreira, que descobriu a gravidez na hora do parto

Jurana Lopes, da Agência Saúde-DF | Edição: Margareth Lourenço

Monique procurou o Hospital Regional de Ceilândia e foi informada pela equipe do HRC que seu bebê poderia não resistir, pois era um prematuro extremo. Foto: Tony Winston-Agência Saúde-DF

A maternidade pode, muitas vezes, não ser desejada e nem pensada pela mulher. A história da autônoma Monique Ferreira, 24 anos, é, no mínimo, curiosa. Ela nunca pensou em ser mãe, pois acreditava que a maternidade não estava de acordo com a sua personalidade e objetivos de vida. Ficou grávida e só descobriu na hora que a bolsa estourou, com 26 semanas.

“Minha menstruação não atrasou nem minha barriga nunca cresceu. Às vezes sentia mal-estar, mas não imaginava uma gravidez porque eu tomava remédio e não tinha sintomas de grávida. Um dia acordei com a cama molhada e ao fazer um ultrassom no hospital, descobri que estava em trabalho de parto. Fiquei chocada, sem acreditar”, relata.

Monique procurou o Hospital Regional de Ceilândia e foi informada pela equipe do HRC que seu bebê poderia não resistir, pois era um prematuro extremo. Isso a desestabilizou emocionalmente. Deste momento em diante despertou nela o espírito de mãe leoa que não se conformou com o que foi dito.

“Quando eu vi a minha filha, foi um amor tão forte e inexplicável que eu falei: não aceito que ela morra. Ela vai viver sim! E desde então eu vivo um dia após o outro, foi um susto, mas a melhor surpresa que tive na vida”, afirma.

Há mais de um mês ela fica na rotina entre casa e hospital, pois a pequena Heloisa Vitória ainda não desenvolveu os pulmões. Como trabalha no comércio, voltou para a rotina. Sendo mãe de UTI, Monique diz que aprendeu a ter paciência e entendeu que não se pode controlar todas as coisas.


Há mais de um mês Monique fica na rotina entre casa e hospital, pois a pequena Heloisa Vitória ainda não desenvolveu os pulmões. Foto: Tony Winston - Agência Saúde-DF

“Sou muito ansiosa e aqui, não adianta ter pressa. Minha filha só vai ter alta no dia que estiver totalmente bem. A vida dela é um milagre e ela veio para me mostrar que eu tenho que ter mais paciência e que eu sou capaz sim de ser mãe, nunca foi um sonho, mas se aconteceu é porque eu dou conta e estou feliz por isso. Este Dia das Mães vai ser muito mais especial por causa dela”, relata. A pequena Heloisa Vitória está pesando 1.050 kg e segue em constante evolução.

Monique recebeu todo o acolhimento da equipe do hospital. Ela conta que foram muito amorosos com seu caso. Inclusive, tem o apoio psicológico para lidar com toda a situação e com os problemas de ansiedade.

Denise Percílio é psicóloga da Unidade de Neonatologia do HRC e destaca que as mães de UTI devem ser acolhidas com muito carinho pela equipe, pois o maior impacto psíquico é o de ter um bebê real muito diferente do bebê imaginado.

“Quando nasce um bebê prematuro, nasce uma família prematura, que não estava preparada para um recém-nascido tão pequeno. Tem também os casos das complicações no parto e a criança nascer na idade esperada, mas tendo que passar pela UTI neonatal por algum motivo. Essas mães não conseguem ter suas emoções maternas vivenciadas ao longo do período do ciclo gravidico-puerperal*”, explica.


Equipe tenta humanizar o máximo possível ambiente  UTI, que é um espaço complexo e de alta tecnologia, Foto:Tony Winston- Agência Saúde-DF

Por conta disso, toda a equipe tenta humanizar o máximo possível o ambiente de uma UTI, que é um espaço complexo e de alta tecnologia, através do Método Canguru, para evitar que não se perca o acolhimento e a proximidade entre mãe e filho.

O Método Canguru é um modelo de assistência ao recém-nascido prematuro e sua família voltado para o cuidado humanizado na Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal. A iniciativa reúne estratégias de intervenção biopsicossocial. O bebê prematuro é colocado em contato pele a pele com sua mãe ou com seu pai, o que ocorre de forma gradativa.

*Período do ciclo gravidico-puerperal: pós-parto, resguardo