18/02/2025 às 08h57

Nova metodologia aprimora o diagnóstico de coqueluche no Distrito Federal

Procedimento de detecção laboratorial da bactéria Bordetella pertussis, causadora da doença, é realizado no Lacen-DF desde abril de 2024

Yuri Freitas, da Agência Saúde-DF | Edição: Fabyanne Nabofarzan

Dados do último boletim epidemiológico sobre a coqueluche no Distrito Federal apontam uma alta significativa do número de registros da doença: em todo o ano de 2024, foram notificados 575 casos suspeitos, dos quais 256 seriam confirmados como coqueluche – 161 pelo critério laboratorial, 59 por critério clínico e 36 por critério clínico-epidemiológico. No exercício anterior, houve registro de 34 casos suspeitos e apenas cinco ocorrências confirmadas – duas pelo critério laboratorial e três pelo clínico.

Desde 2024 o Lacen-DF tem realizado o RT-PCR para o diagnóstico da coqueluche. Foto: Arquivo/Agência Saúde-DF

Os números dos dois anos, porém, não podem ser comparados. Isso porque o Laboratório Central de Saúde Pública do Distrito Federal (Lacen-DF) acrescentou uma nova metodologia para diagnosticar a doença.  “Boa parte do aumento se deve à introdução, em abril do ano passado, de mais um método de diagnóstico da coqueluche, o RT-PCR [reação em cadeia da polimerase em tempo real]”, ressalta a gerente de Vigilância das Doenças Imunopreveníveis e de Transmissão Hídrica e Alimentar (Gevitha) da Secretaria de Saúde (SES-DF), Renata Brandão.

A coqueluche é uma infecção respiratória altamente transmissível causada pela bactéria Bordetella pertussis. Brandão explica que, até 2023, o único método diagnóstico laboratorial utilizado no Lacen-DF consistia no isolamento da bactéria pela cultura de material colhido da nasofaringe do paciente.

“Fatores como uso de antibiótico prévio, duração dos sintomas, idade, estado vacinal ou a presença de outros patógenos na nasofaringe podem influenciar no crescimento bacteriano, enquanto que o RT-PCR é um exame mais sensível, permitindo o diagnóstico até o terceiro dia de uso de antibióticos e até a terceira semana após o início dos sintomas”, explica.

O Distrito Federal é o quarto ente federativo – seguindo São Paulo, Paraná e Minas Gerais – a realizar o RT-PCR para detecção da coqueluche em sua rede pública. Desde o ano passado, o Lacen-DF também vem realizando a testagem completa para o gênero Bordetella: espécies pertussis, parapertussis e holmesii.

Capacitação contra resistência bacteriana

Em 2023, profissionais do Lacen-DF participaram do “Projeto Pertussis: monitoramento de resistência aos macrolídeos”. O programa é uma parceria entre a Sociedade Americana de Microbiologia e o Instituto Adolfo Lutz (IAL), com vistas a melhorar o diagnóstico de coqueluche e identificar os fatores de risco que impulsionam o surgimento e a disseminação de resistência microbiana aos medicamentos.

Servidores do Lacen-DF participaram do “Projeto Pertussis”, visando melhorar o diagnóstico da doença e identificar os fatores de risco para a resistência microbiana a medicamentos. Foto: Arquivo pessoal

No total, os servidores do Lacen-DF participaram de três encontros de treinamento, dois no Brasil e um no México, capacitando-se em procedimentos e tecnologias específicas de tratamento da bactéria.

A diretora do Lacen-DF, Grasiela Araújo, elogia a iniciativa: “a participação do Lacen-DF neste projeto é importante não só para identificar e investigar possíveis falhas no tratamento, mas também para direcionar efetivamente os programas de prevenção e controle, assim como as mudanças no perfil epidemiológico”, diz.

Sintomas

A doença manifesta três fases, sendo a primeira a catarral, com sintomas leves e facilmente confundidos com uma gripe: coriza, febre, mal-estar e tosse seca.

Na segunda fase, os acessos de tosse são mais frequentes e finalizados por inspiração forçada e prolongada – o chamado “guincho inspiratório”, que é o som produzido pelo estreitamento da glote. Geralmente, esses episódios são seguidos de vômitos, dificuldade de respirar e extremidades arroxeadas. Na última fase, a de convalescença, os acessos de tosse desaparecem e dão lugar à tosse comum.

O quadro é preocupante principalmente para bebês menores de seis meses com esquema vacinal incompleto. Os pequenos possuem maior risco de desenvolver complicações causadas pela coqueluche, como infecção no ouvido, pneumonia, insuficiência respiratória, convulsões, lesão cerebral e até a morte.

Vacinas e prevenção

A vacinação é a principal medida de prevenção para a coqueluche, independente do período de sazonalidade. A doença representa maiores riscos para os recém-nascidos não vacinados e a recomendação é que a criança complete o esquema com a vacina pentavalente [difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e Haemophilus influenzae B], administrada aos dois, quatro e seis meses de idade, além de dois reforços com a DTP [difteria, tétano e coqueluche], aos 15 meses e aos quatro anos de idade.

Além dessas, a vacina dTpa [difteria, tétano e coqueluche acelular] é administrada a cada gestação, a partir da 20ª semana, com o objetivo de garantir a proteção dos bebês pela transferência dos anticorpos da mãe para o feto através da placenta.

A vacinação se configura na principal medida de prevenção para a coqueluche, independente do período de sazonalidade. Foto: Breno Esaki/Agência Saúde-DF

A gerente da Gevitha reitera a recomendação: “nos primeiros meses de vida, o sistema imunológico do bebê ainda está em formação e, por isso, a importância não só da vacinação da gestante, como de realizar as vacinas conforme o calendário infantil”. Brandão ainda enfatiza que parteiras, estagiários e profissionais de saúde – em especial os que atuam em maternidades e unidades de internação neonatal – precisam receber a vacina dTpa, conforme preconizado pelo Ministério da Saúde.

Arte: Agência Saúde-DF