UBS 11 inaugura horto medicinal para promover saúde física e mental de idosos
UBS 11 inaugura horto medicinal para promover saúde física e mental de idosos
Projeto realizado em parceria com a Fiocruz pretende integrar os alunos idosos que fazem caratê com o cuidado da horta
Michele Horovits, da Agência Saúde DF | Edição: Fabyanne Nabofarzan
A Unidade Básica de Saúde (UBS) 11 recebeu, na última semana, um horto agroflorestal medicinal biodinâmico – uma iniciativa conjunta entre a Secretaria de Saúde (SES-DF) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que já conta com cerca de 30 hortos implantados no Distrito Federal (DF). A iniciativa representa um passo importante para a promoção da saúde em Ceilândia.
O espaço, que será cuidado com carinho pela comunidade, especialmente pelos participantes do Projeto do Karatê, vai muito além do cultivo de plantas. A proposta é integrar a prática de atividades físicas e terapias integrativas ao contato com a terra, resgatando saberes tradicionais e fortalecendo vínculos sociais.

“O objetivo é unir a manipulação do solo e o uso de plantas medicinais a práticas que melhoram a saúde física e mental, sobretudo dos idosos”, explica a gerente da UBS 11, enfermeira Karla da Silva. “Muitos já cultivavam hortas em casa e conhecem o valor das ervas na prevenção e no cuidado com a saúde. Agora, esse conhecimento se une ao trabalho coletivo e ao acolhimento que oferecemos aqui”, explica a profissional.
Ações integradas
O horto se soma a outras ações já consolidadas na UBS, como as aulas de caratê oferecidas três vezes por semana pelo sensei voluntário, e atividades funcionais conduzidas por moradores da comunidade. Atualmente, mais de 100 idosos participam dessas práticas regularmente.
Para Severina Maria do Carmo, 81, frequentar a UBS três vezes por semana é um alívio contra o isolamento e a tristeza. Moradora da Expansão do Setor 'O' há duas décadas, ela sofre com problemas na coluna e no joelho e usava bengala para andar antes da atividade física. Hoje, ela participa das aulas três vezes por semana.

A idosa ainda garante que o contato com as pessoas faz toda a diferença. “Se ficasse em casa, era ruim. A gente cai na depressão. Aqui, a gente conversa, ri, e agora vai ter a horta. Eu adoro plantas. Sempre usei mastruz e alecrim para cuidar da saúde”, conta.
Já Maria Rocha, 76, diz que desde janeiro recuperou a mobilidade e a disposição. “Eu vivia ansiosa, deitada no sofá, com dores no corpo todo. Depois que comecei a vir, consigo agachar, faço coisas que antes não fazia. E ainda vou poder ajudar a cuidar da horta. A gente já fez um grupo de seis amigas para vir juntas cuidar das plantas”, relata com uma muda de alecrim na mão.

Prevenção que transforma
O trabalho da UBS 11 reflete uma mudança de paradigma. Ao assumir a gerência há dez meses, Carla percebeu que muitos viam a unidade como uma “mini-UPA” e só buscavam atendimento quando estavam doentes. Hoje, as ações de prevenção e promoção de saúde atraem diariamente moradores que buscam mais qualidade de vida.
“Se gostam de estar aqui, vamos aproveitar para que venham antes de adoecer. O horto, assim como as atividades físicas, ajuda a prevenir doenças e a fortalecer o vínculo com a comunidade. Temos uma maioria de idosos em situação de vulnerabilidade social, a UBS 11 mostra como iniciativas simples podem transformar realidades, promover saúde e devolver alegria ao dia a dia", destaca a gerente.

Aos 82 anos, Salvador Rodrigues da Silva é a prova viva de que nunca é tarde para recomeçar. Morador da região há 17 anos, o aposentado começou a praticar caratê na UBS 11 há pouco mais de um ano. Além das aulas, também se dedica à musculação.
“Eu cheguei aqui de bengala, por causa de uma consequência da dengue. Hoje, estou bem. Consigo fazer tudo”, conta, com um sorriso orgulhoso. Salvador afirma que a rotina de treinos fez toda a diferença na disposição, no equilíbrio e até na forma de encarar a vida. “O caratê me deu força, coordenação e vontade de sair de casa. A gente treina, conversa, se anima. E, quando vê, já está vivendo melhor”, diz. Ele acrescenta que tem a "mão boa para planta" e que está ansioso pra cuidar da horta.
Rede de hortos
A Rede de Hortos Agroflorestais Medicinais Biodinâmicos (RHAMB) conta agora com 31 unidades. Em 2024, foram construídos 13 novos espaços; e, neste ano, outros três. Os cursos de aperfeiçoamento, realizados anualmente desde 2023, capacitam 50 servidores a cada nova edição.
Desde 2018, a RHAMB segue como estratégia de descentralização do cultivo de plantas medicinais e de promoção da saúde no Sistema Único de Saúde (SUS) do DF. Esses hortos diferenciam-se de outros por serem construídos com a comunidade e com princípios da agroecologia, agrofloresta e agricultura biodinâmica.