11/08/2025 às 10h16

UBS 11 inaugura horto medicinal para promover saúde física e mental de idosos

Projeto realizado em parceria com a Fiocruz pretende integrar os alunos idosos que fazem caratê com o cuidado da horta

Michele Horovits, da Agência Saúde DF | Edição: Fabyanne Nabofarzan

A Unidade Básica de Saúde (UBS) 11 recebeu, na última semana, um horto agroflorestal medicinal biodinâmico – uma iniciativa conjunta entre a Secretaria de Saúde (SES-DF) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que já conta com cerca de 30 hortos implantados no Distrito Federal (DF). A iniciativa representa um passo importante para a promoção da saúde em Ceilândia.

O espaço, que será cuidado com carinho pela comunidade, especialmente pelos participantes do Projeto do Karatê, vai muito além do cultivo de plantas. A proposta é integrar a prática de atividades físicas e terapias integrativas ao contato com a terra, resgatando saberes tradicionais e fortalecendo vínculos sociais.
 

Participantes do projeto de artes marciais se reúnem para atividades físicas e, agora, também vão cultivar plantas medicinais no horto agroflorestal. Foto: Jhonatan Cantarelle/Agência Saúde DF


“O objetivo é unir a manipulação do solo e o uso de plantas medicinais a práticas que melhoram a saúde física e mental, sobretudo dos idosos”, explica a gerente da UBS 11, enfermeira Karla da Silva. “Muitos já cultivavam hortas em casa e conhecem o valor das ervas na prevenção e no cuidado com a saúde. Agora, esse conhecimento se une ao trabalho coletivo e ao acolhimento que oferecemos aqui”, explica a profissional. 

Ações integradas

O horto se soma a outras ações já consolidadas na UBS, como as aulas de caratê oferecidas três vezes por semana pelo sensei voluntário, e atividades funcionais conduzidas por moradores da comunidade. Atualmente, mais de 100 idosos participam dessas práticas regularmente.

Para Severina Maria do Carmo, 81, frequentar a UBS três vezes por semana é um alívio contra o isolamento e a tristeza. Moradora da Expansão do Setor 'O' há duas décadas, ela sofre com problemas na coluna e no joelho e usava bengala para andar antes da atividade física. Hoje, ela participa das aulas três vezes por semana. 
 

Severina Maria do Carmo, 81, representa a força e a alegria dos idosos da UBS 11, que encontraram no caratê, na convivência e, agora, no horto medicinal novas formas de cuidar da saúde. Foto: Jhonatan Cantarelle/Agência Saúde DF


A idosa ainda garante que o contato com as pessoas faz toda a diferença. “Se ficasse em casa, era ruim. A gente cai na depressão. Aqui, a gente conversa, ri, e agora vai ter a horta. Eu adoro plantas. Sempre usei mastruz e alecrim para cuidar da saúde”, conta.

Já Maria Rocha, 76, diz que desde janeiro recuperou a mobilidade e a disposição. “Eu vivia ansiosa, deitada no sofá, com dores no corpo todo. Depois que comecei a vir, consigo agachar, faço coisas que antes não fazia. E ainda vou poder ajudar a cuidar da horta. A gente já fez um grupo de seis amigas para vir juntas cuidar das plantas”, relata com uma muda de alecrim na mão.
 

Maria da Rocha, 76, disse que depois das atividades na UBS, melhorou a mobilidade e agora poderá ajudar a cuidar da horta junto com as amigas que frequentam a unidade. Foto: Jhonatan Cantarelle/Agência Saúde DF


Prevenção que transforma

O trabalho da UBS 11 reflete uma mudança de paradigma. Ao assumir a gerência há dez meses, Carla percebeu que muitos viam a unidade como uma “mini-UPA” e só buscavam atendimento quando estavam doentes. Hoje, as ações de prevenção e promoção de saúde atraem diariamente moradores que buscam mais qualidade de vida.

“Se gostam de estar aqui, vamos aproveitar para que venham antes de adoecer. O horto, assim como as atividades físicas, ajuda a prevenir doenças e a fortalecer o vínculo com a comunidade. Temos uma maioria de idosos em situação de vulnerabilidade social, a UBS 11 mostra como iniciativas simples podem transformar realidades, promover saúde e devolver alegria ao dia a dia", destaca a gerente.
 

O horto se soma a outras ações já consolidadas na UBS, como as aulas de caratê oferecidas três vezes por semana pelo sensei voluntário, e atividades funcionais conduzidas por moradores da comunidade. Foto: Jhonatan Cantarelle/Agência Saúde DF


Aos 82 anos, Salvador Rodrigues da Silva é a prova viva de que nunca é tarde para recomeçar. Morador da região há 17 anos, o aposentado começou a praticar caratê na UBS 11 há pouco mais de um ano. Além das aulas, também se dedica à musculação.

“Eu cheguei aqui de bengala, por causa de uma consequência da dengue. Hoje, estou bem. Consigo fazer tudo”, conta, com um sorriso orgulhoso. Salvador afirma que a rotina de treinos fez toda a diferença na disposição, no equilíbrio e até na forma de encarar a vida. “O caratê me deu força, coordenação e vontade de sair de casa. A gente treina, conversa, se anima. E, quando vê, já está vivendo melhor”, diz. Ele acrescenta que tem a "mão boa para planta" e que está ansioso pra cuidar da horta.

Rede de hortos 

A Rede de Hortos Agroflorestais Medicinais Biodinâmicos (RHAMB) conta agora com 31 unidades. Em 2024, foram construídos 13 novos espaços; e, neste ano, outros três. Os cursos de aperfeiçoamento, realizados anualmente desde 2023, capacitam 50 servidores a cada nova edição.

Desde 2018, a RHAMB segue como estratégia de descentralização do cultivo de plantas medicinais e de promoção da saúde no Sistema Único de Saúde (SUS) do DF. Esses hortos diferenciam-se de outros por serem construídos com a comunidade e com princípios da agroecologia, agrofloresta e agricultura biodinâmica.