17/11/2023 às 09h32

Dia Mundial da Prematuridade alerta para cuidados com o pré-natal

No DF, 12,6% dos partos são prematuros. Acompanhamento médico na gestação é essencial para prevenir nascimentos antecipados

Jurana Lopes, da Agência Saúde-DF | Edição: Amanda Martimon

O Novembro Roxo – mês de conscientização em alusão ao Dia Mundial da Prematuridade (17 de novembro) – tem o objetivo de alertar sobre o crescente número de partos prematuros e como preveni-los, além de informar sociedade e gestores quanto às consequências do nascimento antecipado para o bebê, sua família e a sociedade. A cor simboliza a sensibilidade e a individualidade, características muito peculiares aos bebês prematuros, para quem a sobrevida depende das condições do pré-natal e nascimento e das complicações que podem apresentar após o parto.

De janeiro a agosto de 2023, a rede pública de saúde do DF registrou um total de 3.079 nascidos vivos prematuros (com menos de 36 semanas de idade gestacional). Isso representa 12,7% dos partos, considerando que foram 24.249 bebês nascidos vivos nesse mesmo período. Em 2022, foram 6.130 nascidos vivos prematuros, de um total de 48.769 nascidos vivos no DF, sendo a taxa de prematuridade de 12,6%.

O Dia Mundial da Prematuridade (17 de novembro) alerta sobre o crescente número de partos prematuros e como preveni-los, além de reforçar os cuidados necessários com os bebês que nascem antes do tempo. Foto: Sandro Araújo/Agência Saúde-DF

Segundo a pediatra e Referência Técnica Distrital (RTD) colaboradora de Neonatologia, Priscila Domingues, o parto prematuro pode ocorrer por diversas causas. As mais comuns estão relacionadas com a saúde da gestante, como pré-eclâmpsia, diabetes gestacional e infecções. “O acompanhamento pré-natal pode prevenir, diagnosticar e tratar precocemente doenças, a fim de manter a integridade das condições de saúde da mãe e do bebê, além de planejar o nascimento e cuidados que o bebê poderá necessitar ao nascer”, destaca.

Após o nascimento, é feita uma avaliação clínica e a verificação dos sinais vitais do recém-nascido prematuro. O bebê fica em incubadora sob aquecimento para manter a temperatura corporal estável e para ganho de peso. O tempo de permanência no aparelho vai depender da recuperação, da idade gestacional e do peso de cada um.

Quanto mais prematuro e menor o peso, maior é o risco do recém-nascido apresentar complicações decorrentes da prematuridade. Há riscos de agravos neurológicos (hemorragia peri-intraventricular), respiratórios (síndrome do desconforto respiratório, displasia broncopulmonar, hemorragia pulmonar), infecciosos (sepse), oftalmológicos (retinopatia da prematuridade), entre outros.

Referência no DF

O Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib) é referência para acompanhamento pré-natal e para partos de alto risco. Por isso, registra muitas histórias de mães que enfrentaram complicações na gestação.

Internada em agosto na unidade, a vendedora Mikaella Siqueira, de 21 anos, passou dois meses recebendo os devidos cuidados para prolongar a gestação de alto risco dos gêmeos Ágatha e Isaac. Os bebês nasceram em 8 de outubro, com 29 semanas e baixo peso. Ágatha pesava 1,330 kg e Isaac, com 1,280 kg, ficou entubado por quatro dias por dificuldades respiratórias.

Mikaella Siqueira, de 21 anos, ficou internada por dois meses no Hmib para prolongar a gestação de alto risco. Os gêmeos Ágatha e Isaac nasceram em outubro, com 29 semanas. Foto: Sandro Araújo/Agência Saúde

Ambos seguem internados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (Utin) pois precisam ganhar mais peso para alta hospitalar. A saúde dos recém-nascidos é avaliada como muito boa e eles já se alimentam com o leite da própria mãe.

“Fui muito bem acolhida por toda a equipe do hospital. Sempre me tranquilizaram com relação à gestação e, apesar dos riscos, me deram conforto e segurança em todos os momentos”, elogia a vendedora, que também conta com apoio psicológico. “Fiquei muito triste de receber alta e não poder levar meus bebês para casa. Mas, a psicóloga me explicou que é algo momentâneo e para a saúde deles. Então, venho todos os dias ordenhar o leite e poder ter o contato pele a pele com eles”, relata.

Contato pele a pele

“Iniciamos a dieta com leite materno precocemente se as condições clínicas permitirem, realizamos o rastreio de infecções e os demais cuidados ocorrem conforme a necessidade do paciente, como suporte respiratório e hemodinâmico”, conta a RTD e pediatra neonatologista.

O contato pele a pele e a amamentação são extremamente importantes para o prematuro, pois o protege de infecções, o mantém aquecido de forma mais natural e ainda auxilia no relaxamento e em um sono mais tranquilo em contato com a pele dos seus pais, além de fortalecer o vínculo. Neste ano, a campanha do Novembro Roxo foca nesses benefícios e tem o tema: “Pequenas ações, grande impacto: contato pele a pele imediato para todos os bebês, em todos os lugares”.

De acordo com Domingues, o leite materno é muito importante para o crescimento e desenvolvimento dos prematuros. Por isso, se a própria mãe não conseguir ofertar, os bebês são alimentados com leite doado por outras mães que amamentam. A oferta ocorre por meio de sonda gástrica até que o prematuro tenha maturidade suficiente para sugar o seio materno.

Prematuridade

O nascimento antes de 37 semanas de gestação é considerado prematuro. Se nascido entre 34 a 36 semanas, os bebês são classificados como prematuros limítrofes. Os nascidos entre 29 a 33 semanas são prematuros moderados e aqueles que nascem com menos de 28 semanas são os chamados prematuros extremos.

“Nas primeiras 96 horas de vida do prematuro extremo devemos sempre ter em mente o manuseio mínimo deles, porque já foi comprovado que o manuseio excessivo é prejudicial ao desenvolvimento”, explica o chefe da Unidade de Neonatologia do Hmib, Fabiano Gonçalves. Os prematuros extremos precisam de cuidados específicos em UTI neonatal.

O pequeno Yan Gabriel chegou ao mundo em 16 de outubro pesando 1.790 kg, após um parto de 35 semanas, e já se mostrou um guerreiro desde as primeiras horas de vida. Ele nasceu com gastrosquise (abertura anômala da parede abdominal) e passou por duas cirurgias abdominais de correção. Outro procedimento cirúrgico ainda é necessário para fechar a cavidade.

A mãe de Yan, Jheniffer Lorrane de Souza, de 17 anos, soube no pré-natal sobre a situação do filho. “Eu fiquei bem triste, com medo dele não resistir a cirurgias tão complexas, pelo fato dele ser tão pequeno. Tenho me apegado a Deus e a equipe tem me apoiado, está dando tudo certo e logo meu filho vai ficar bem.”

No Hmib, além do apoio psicológico, as mães recebem apoio espiritual do capelão Diones Aguiar, que circula por todo o hospital conversando com as famílias que têm alguma criança internada. “Nas UTIs neonatais, particularmente, vemos as mães em pleno sofrimento, pois é difícil ver um filho tão pequeno ligado em vários aparelhos, lutando pela vida, sem poder pegar no colo e tendo que confiar em outras pessoas. Meu papel é dar o encorajamento espiritual para enfrentar o momento”, destaca Aguiar.

O capelão Diones Aguiar fica à disposição no Hmib para apoio espiritual às famílias que têm alguma criança internada. Foto: Sandro Araújo/Agência Saúde-DF

Crianças que nasceram de forma prematura têm mais risco de desenvolver problemas de aprendizagem e comportamentais, deficiências motoras, infecções respiratórias crônicas e doenças cardiovasculares ou diabetes, em comparação com bebês nascidos a termo. “Esses pacientes precisam de um acompanhamento especial a longo prazo, uma vez que apresentam particularidades sobre o seu crescimento, desenvolvimento e possíveis comorbidades relacionadas à prematuridade”, ressalta a Referência Técnica Distrital (RTD) colaboradora de Neonatologia, Priscila Domingues,

Rede de atenção
Além do HMIB, o Hospital Universitário de Brasília (HUB) e os hospitais regionais de Taguatinga (HRT), de Ceilândia (HRC), de Sobradinho (HRS) e de Santa Maria (HRSM) ofertam atendimento em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (Utin). Os hospitais regionais da Asa Norte (Hran), de Planaltina (HRPL), do Gama (HRG) e o Hospital da Região Leste (HRL) possuem Unidade de Cuidados Intermediários Neonatais (Ucin).

Dados do Ministério da Saúde apontam que, no Brasil, 340 mil bebês nascem prematuros todo ano, o equivalente a 931 por dia ou seis prematuros a cada dez minutos. Mais de 12% dos nascimentos no país acontecem antes da gestação completar 37 semanas, o dobro do índice de países europeus.