17/07/2015 às 12h52

UTI neonatal do HRC oferece terapia ocupacional

Trabalho atua em quatro frentes: ambiente, família, equipe e recém-nascido

BRASÍLIA (17/7/15) – Em uma gestação normal, após nove meses, ocorre o parto e logo mamãe e bebe recebem alta. Mas, nem sempre é essa a sequência que, de fato, acontece. Em alguns casos, a nova família precisa permanecer por mais tempo no hospital, em um ambiente de unidade de terapia intensiva (UTI). A estadia não é fácil, garantem as mães, mas alguns profissionais colaboram para que ela seja menos traumática. É assim no Hospital Regional de Ceilândia, onde 700 crianças nascem mensalmente sendo, aproximadamente, 15% prematuros.

A unidade conta com 34 leitos de UTI neonatal, sendo oito de alto risco, 20 de cuidados intermediários e seis de cuidados intermediários com o método Canguru. Em todos eles, uma terapeuta ocupacional atua para deixar mais leve o período em que mãe e bebê permanecem internados. "Nossa abordagem se dá em quatro níveis: ambiente, família, equipe e recém-nascido", afirmou a terapeuta Mchilanny de Menezes.

Ela explicou que todo esse contexto deve ser pensado de modo a agilizar a recuperação da criança. "A UTI é um ambiente carregado de informação. Tem muita luz, muito som e muita gente. Nossas estratégias visam minimizar o impacto disso tudo para o bebê. Entre os projetos está o "Hora do soninho", que é um momento do dia em que apagamos todas as luzes", descreveu a terapeuta ocupacional.

A equipe que atua na UTI neonatal do HRC, formada por fonoaudiólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, médico, enfermeiro e técnico de enfermagem, também passa por um treinamento. "Eles são instruídos a usar um calçado que faça pouco barulho, a usar perfume com cheiro suave, a falar em tom de voz mais baixo e a manipular o bebê o mínimo possível", contou Mchilanny de Menezes.

FAMÍLIA – A terapeuta ocupacional afirma que, como a mãe, geralmente, está abalada com a condição do filho, a equipe busca na família alguém que seja referência para a mulher e faz rodas de conversas com todos juntos, para que possam expor dúvidas, angústias e também receberem orientações.

As visitas de irmãos menores também passou a ser permitida dentro da política usada na UTI neo do HRC. "Marcamos um dia da semana para que crianças menores de 12 anos possam vir passar um tempo com a mãe e o irmão internado", destacou Mchilanny.

O principal foco do trabalho feito pela terapeuta ocupacional dentro da unidade de internação é o bebê. "Temos de proteger a estrutura muscular, evitando contraturas, deformidades e consequências negativas para o desenvolvimento neuropsicomotor. Para isso, adotamos estratégias, como o posicionamento correto da criança na incubadora e o início da estimulação precoce, principalmente para os bebês que ficam por mais tempo na UTI", explicou.

A terapeuta conta que um diferencial do HRC é que os profissionais continuam acompanhando a criança por dois anos após a alta médica. "Aproximadamente 70% das mães vêm ao hospital para este acompanhamento", destacou Mchilanny.

MAMÃES – Para minimizar a angústia de ver o filho em uma UTI, as mães têm a opção de participar das oficinas de artesanato oferecidas pelos próprios servidores do hospital. "Pego moldes da internet e elas confeccionam algumas peças simples. A primeira delas é um bonequinho ou bonequinha de E.V.A com a identificação da criança", exemplificou a terapeuta ocupacional.

Ela diz que já apresentou trabalho em um congresso sobre a ação dessas mini oficinas no comportamento das mulheres que acompanham os filhos na internação. O resultado mostrou que 99% delas se sentiram menos ansiosas e menos estressadas.

Que o diga Maria Luiza Gadelha, há um mês no hospital acompanhando o filho, Paulo Henrique. Ela fez um bonequinho que já está exposto na incubadora do pequeno, devidamente identificado. "Participar da confecção foi bom. Esquecer do problema, a gente não esquece, mas ajuda a amenizar o sofrimento", disse.

Ali do lado, Érica Procópio, mãe de Alice Vitória, de 2 meses de vida, também tenta diminuir a angústia de ver a filha lutando para sair logo da UTI. A menina veio ao mundo com 29 semanas de gestão, pesando apenas 1.185 kg. Atualmente, mais gordinha, com quase 1kg a mais, aumenta a esperança da mãe de receber alta em breve. "Passo 24 horas aqui dentro. Não é fácil, mas a equipe ajuda bastante", contou Érica, que tem outro filho, de 7 anos de idade.

RECONHECIMENTO – O trabalho desenvolvido no HRC acabou levando a unidade a ser parte de um estudo mundial. Ele é o único do DF a integrar o projeto da pesquisadora canadense Fay Warbock, vinculado à ONG de Bill Gates.

O projeto tem como objetivo avaliar a efetividade da Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) para as unidades neonatais, visando o aumento das taxas de aleitamento materno exclusivo para redução da taxa de mortalidade e morbidade associadas com a prematuridade.

De acordo com a coordenadora do projeto no Brasil, Carmen Scochi, trata-se de um trabalho inédito em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), HRC e outras instituições internacionais, com vistas ao aumento precoce da amamentação e prevalência do aleitamento materno exclusivo neonatal. Também tem como objetivo melhorar as condições de saúde dos prematuros e as práticas profissionais para promoção, proteção e apoio nas UTIs neonatais.

A pesquisa foi iniciada há um ano e agora está na fase de implementação. "Foram propostos 10 passos, adaptados à realidade de Ceilândia, e estamos implantando todos eles, gradativamente", afirmou Mchilanny. Segundo Carmem Scochi, no início de 2016 os pesquisadores devem retornar ao hospital para comparar os resultados.