12/08/2019 às 09h33

Caco Terapêutico melhora vida de pacientes da Saúde Mental

Oficinas ajudam no tratamento de transtorno mental e podem ser fonte de rendaAlline Martins, da Agência SaúdeFotos: Mariana Raphael/Saúde-DF

    Em meio a tecidos, pastilhas de vidro e pedaços de cerâmica, mãos e mentes estão voltadas à criação não somente de peças decorativas, mas também de uma nova realidade. A proposta do Caco Terapêutico, projeto desenvolvido dentro do Instituto de Saúde Mental (ISM), melhora o estado de saúde dos pacientes e ainda ajuda a garantir retorno financeiro, já que muitas das criações são vendidas em feiras e eventos.   A comercialização, porém, é apenas uma consequência. “O que mostramos aqui é que o lixo, como restos de tecido, tampinhas de garrafas, pedaços de cerâmica, representa o transtorno mental e quando estes materiais são transformados em arte, passam a ter mais valor. É mais ou menos isso que acontece aqui com as pessoas”. Quem faz a analogia é a técnica de enfermagem e responsável pelo projeto, Cássia Maria.   Segundo ela, é fácil perceber essa transformação nas próprias peças desenvolvidas por eles. “Muitos chegam aqui cabisbaixos. Preferem usar preto e branco ou fazem uma mistura exagerada de cores, mostrando esse desequilíbrio. Mas, em pouco tempo, já trabalham de forma mais organizada, com as cabeças levantadas e mais felizes”, exemplifica.   Há um ano participando do Caco Terapêutico, Rita de Cássia é a prova dessa transformação. “Aqui, me sinto feliz. Quando estou em casa, sinto coisas que nem gosto de comentar. Mas, aqui, eu vivo de novo. É a minha segunda casa”, relata ela, enquanto cola pedaços de cerâmica em uma escova de engraxate. Além do mosaico, ela é mestre em fazer bonequinhas abayomi. “Quando perco o sono, já começo a fazer. Já produzi mais de mil”, conta.   EVOLUÇÃO – As oficinas oferecidas no ISM acontecem desde maio de 2006, mas somente em 2015 o projeto foi batizado de Caco Terapêutico. “Era uma oficina de mosaico, em que usávamos restos de MDF, azulejo e cerâmica. Saíamos com uma Kombi para o lixão, de onde vinham os materiais”, conta Cássia.   Com o passar do tempo, foram identificando outras habilidades nos pacientes e deixaram de fazer somente o mosaico e, hoje, já produzem abayomis, africanas de papel jornal e, agora, estão juntando tampas tanto para doação quanto para desenvolver peças decorativas.   “Atualmente, estamos com cerca de 40 pacientes nas oficinas do Caco Terapêutico. Só podem participar aqueles com prontuário ativo e precisam ter frequência para continuar no projeto”, explica Cássia.   Frequentadora há um mês, a jovem Gláucia Ribeiro Nascimento, 22 anos, relutou em ir à terapia, mas, depois de dois encontros, já está gostando. “Vim na marra no primeiro dia. Fiz uma abayomi e conheci a história dela. No segundo dia, já vim mais animada. Trouxe uma caixinha para fazer o mosaico e estou gostando. É gratificante ver a peça ficando pronta. Mostra que sou capaz de fazer algo”, destaca a moça, que se trata de uma depressão.   As oficinas acontecem todos os dias, porém, com trabalhos diferentes. Tapeçaria, abayomi, cata tampas, pintura e desenho, mosaico, além de automassagem e terapia comunitária estão no rol de atividades.   As peças desenvolvidas são expostas em feiras e eventos, com possibilidade de comercialização. Parte do valor fica com os pacientes criadores dos trabalhos e uma parcela fica ao Caco Terapêutico para compra de alguns materiais.