Cuidados Paliativos e sua importância no processo de luto
Cuidados Paliativos e sua importância no processo de luto
HMIB oferece equipe multidisciplinar para dar apoio e assistência à famílias que perderam filhos no nascimento ou na infância
Jurana Lopes, da Agência Saúde-DF
Famílias que precisam de cuidados, empatia, acolhimento e apoio institucional, com suporte técnico, psicológico e emocional que garantam um retorno menos difícil para casa. Esse é um dos focos das equipes de cuidados paliativos perinatais e pediátricos do Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB).
Casal perdeu filho há dois meses, 26 minutos após o nascimento. Foto: Sandro Araújo/Agência Saúde-DF
Daniel Alvarez e a esposa, Paula Valle, perderam o filho Arthur 26 minutos após o nascimento. Ele foi diagnosticado com duas síndromes raríssimas ainda no início da gravidez. Os pais tiveram a opção de interromper a gestação, mas optaram pelo nascimento do bebê, que ocorreu há dois meses.
“Tivemos todo o apoio da equipe de cuidados Paliativos. Em momento algum nos deram alguma esperança de um diagnóstico diferente, mas sempre nos acolheram com muita empatia e nos prepararam para o momento de partida dele”, relata Paula.
A enfermeira Débora Santos perdeu a filha Manu 12 horas após o nascimento, em fevereiro de 2019. Ela conta que recebeu todo o cuidado da equipe multidisciplinar do HMIB para lidar com a situação. “As pessoas desmerecem o luto de um bebê, acham que pelo fato dele não ter vivido muito tempo a dor é menor, mas não é assim. Eu perdi um filho e nada muda isso, só aprendemos a viver com essa perda”, afirma.
Débora perdeu a filha Manu em fevereiro de 2019. Fotos: Sandro Araújo/Agência Saúde-DF
O HMIB oferece atendimento psicológico desde a hora do parto, com psicólogo exclusivo dentro do Centro Obstétrico (CO). Além disso, o hospital não mistura as pacientes que tiveram uma perda perinatal com as pacientes da maternidade, para evitar o sofrimento.
“São pais que estão vivendo o sofrimento total, sua dor total, tanto física, como emocional, psicológica e espiritual. Nosso objetivo é ajudar as famílias a lidarem com a dor e evitar o sofrimento e possíveis transtornos como a depressão”, explica a psiquiatra e coordenadora do Ambulatório de Saúde Mental da Mulher do HMIB, Maria Marta Freire.
Dia Mundial
Para reunir pais, profissionais e pacientes atendidos pelas equipes de cuidados paliativos, o HMIB realizou nesta quinta (6), a palestra: Curando Corações e Comunidades. Esse também é o tema deste ano do Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, celebrado no segundo sábado de outubro.
Evento ocorreu no HMIB e tratou de temas relacionados ao luto. Fotos: Sandro Araújo/Agência Saúde-DF
“A campanha deste ano foi uma alusão às mortes por conta da pandemia mundial do coronavírus e pelas vítimas da guerra da Ucrânia. E nós procuramos adequar o tema à realidade que vivenciamos aqui no hospital, que são os lutos por conta de perdas perinatais ou pediátricas”, destaca o pediatra paliativista e coordenador do grupo de Cuidados Paliativos do HMIB, Neulanio Francisco.
Durante o evento foram abordadas reflexões sobre a morte e o luto na pediatria, o sofrimento dos profissionais, as fases do luto e suas reações. Além disso, três pais deram seus depoimentos pessoais sobre as perdas que sofreram.
O HMIB possui duas equipes multidisciplinares de cuidados paliativos. Uma delas é voltada para os cuidados paliativos perinatais, destinada a famílias que têm o diagnóstico de bebês com condições limitantes à vida (síndromes graves, doenças cardiológicas gravíssimas) e outra para os cuidados paliativos pediátricos, voltada para famílias com crianças em tratamento de doenças graves e com risco à vida.
As equipes são compostas por médicos geneticistas, paliativistas, psiquiatras, obstetras, pediatras, enfermeiros, entre outros, que atuam de maneira interdisciplinar para que a família seja acolhida no momento do luto.